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Novo Rock Gaúcho 007: Carlinhos Carneiro, Afonso Antunes, Demure, Aster, Imundo, Frau, Prägä, Théo Fetter, Marcelo Demichelli
Por Francisco Martins
Publicado em 07/11/2025 17:08
Música

Quando acaba o mês das crianças, logo vem o mês dos adultos? Não, migues, porque todos os 12 ciclos de 30 ou 31 dias nos quais o ano é dividido são dos crescidinhos. Então, parabéns para nós, criaturas (supostamente) responsáveis pagadoras de boletos. O que nos resta de alento é curtir um som. Lembremos da atriz Christiane Torloni, que foi sagaz ao profetizar: todo dia é dia de rock, bebê! Nessa pilha, cá estamos, com mais uma coluna do Novo Rock Gaúcho no Scream & Yell. Como de costume, temos NoTambém tem destaques sobre literatura musical, desta vez. Eis o que a casa oferece nesta edição (e eis a playlist)!


– “O Que Não Se Quer Perder”, Aster – O novo EP da Aster , banda de Canoas, leva o nome de “O Que Não Se Quer Perder”, traz mais do que cinco músicas de hardcore melódico – base do som que a banda criada em 2007 faz. O apanhado de referências sonoras punks e alternativas do registro ganha força por ser costurado pela parceria e pela química entre os integrantes, bem como por demonstrações de afeto, questionamentos e reflexão. Cada canção foi captada em um estúdio diferente da cidade natal da banda, saga que está registrada em uma série documental de cinco episódios que falam sobre cada composição e seu processo de gravação (todos disponíveis logo abaixo).

“Todos esses estúdios fazem parte da história da banda de alguma forma, gravando ou ensaiando. Três desses estúdios foram seriamente afetados pela enchente de 2024. ficando completamente submersos. Por isso, ter feito esse trampo um ano após o caos que afetou todo o estado soou como um suspiro de renovação em que a gente pôde contemplar e ser contemplado por esses estúdios, onde por tantas vezes nos reunimos pra fazer o que tanto gostamos e nos faz sentido. Quem tá nesse rolê, sabe como é. Em cada estúdio foi gravada uma música. Os que não tinham a estrutura de gravação, essa estrutura foi levada por nós. O importante é que cada música tivesse as paredes de cada estúdio em si ressoadas em sua respectiva gravação”, destaca o vocalista Felipe “Paulista” Arnt.

Sonoramente, o quarteto passeia por caminhos não tão brutos do subgênero derivado do punk – Dead Fish, Samiam, Cólera e Dag Nasty são artistas que vem à mente. No entanto, acrescenta guitarras ruidosas que lembram figuras clássicas do indie e do post-hardcore, como Sonic Youth e Fugazi.


– “Killer Hill”, Imundo – Tem som novo da galera da Imundo. “Killer Hill” chega junto com clipe maneiro, evocando uma vibe old school de quando punk/hc/crossover era a trilha para manobras & tombos. A faixa faz parte do novo EP da banda, “Charlie Grind Jr” (baita título), que sai em dezembro.


– “Manifesto Público”, Código Penal – O sexteto porto-alegrense Código Penal, que tem mais de 30 anos de história, colocou nas plataformas de streaming o novo EP “Manifesto Público”. O trabalho resgata a essência contestadora da banda e traz letras fortes que cutucam as feridas da nossa sociedade. Da regravação da faixa-título ‘Manifesto Público’ às porradas sonoras ‘Bomba H’, ‘Chove Bala’, ‘Perímetro Criminal’ e ‘Justiça Injusta’, o disco é um grito de resistência e atitude. Em 2026, o registro deve ganhar versão em vinil pela E Music Disc.


– “Juízo Final”, Prägä – O quarteto Prägä, de Santa Maria (região central do RS), disponibilizou o single “Juízo Final/Em Nome do Sofrimento”, sendo que a primeira faixa chega acompanhada de um clipe. O vídeo para “Juízo Final”, um hardcore metalizado urrado a duas vozes, estreou no canal Hardcore Worldwide (espécie de comunidade multiplataforma para difundir o trabalho de bandas hc).


– “FDP”, Frau – Lançado em 30 de setembro em todas as plataformas de streaming, o EP “FDP” tem 5 faixas inéditas: ‘FDP’, ‘Pele de Rato’, ‘Chá de Merda’, ‘Papa’ e ‘Dona Máxima’. Para um projeto que surgiu mais pelo acaso do que pela intenção, a Frau acumulou ao longo de dois anos uma bagagem experiente, sem nunca ter abandonado a despretensão e a dedicação em fazer música por diversão – algo que, conforme os próprios músicos, define a originalidade do grupo. É isso que Joana Berwanger (vocalista), Matheus Leal (guitarrista), Jenny Vieira (baixista) e Hélio Cordeiro (baterista) sintetizam nesse EP de estreia. O registro só foi possível graças ao financiamento coletivo realizado pela banda. Com o apoio de 25 pessoas, o trabalho saiu do papel e tornou-se realidade. O material foi pensado para representar com a maior fidelidade possível as composições da maneira como são tocadas ao vivo. Por isso, não espere arranjos e solos estranhos, instrumentos adicionais ou excesso de efeitos. Como um bom compilado de punk rock, o EP propõe-se a ser cru e autêntico, mas gravado e produzido com qualidade.


– “Fac-Símile”, Profane – O quarteto Profane (antiga Profane Mind) colocou no mundo recentemente um EP intitulado “Fac-Símile”. A banda formada pelos primos Conrado C. Beltrão (guitarra e voz), Cristiano B. Costa (baixo e voz) e Luciano B. Costa (guitarra e voz), com a recente adição das batidas sempre eficientes de Luiz Argimon (Luigi Rokero), grosso modo, pratica um hardcore não ortodoxo que reverência a produção musical da última década do século passado.

Dado o conteúdo das letras e o fato de que três dos integrantes são ou passaram pela área da ciência que estuda o comportamento humano, o time do NRG convencionou usar a expressão “psicologia do autoenfrentamento com arte” para referir-se ao som da Profane. Afinal, quem confronta seus próprios fantasmas com música (ou outra forma de expressão artística) afronta toda a gente doente a quem chamamos de sociedade (antes fosse o dos poetas mortos).

Embora a prática de apropriação das fontes usada pelo quarteto vá além da música, passando por cinema e literatura, citemos Titãs (circa fim dos 1980/começo dos 1990) e Dead Kennedys como alguns modelos que parecem terem servido de inspiração no EP.


– “Kynodontas”, Silenzio Statico – Na alienação da rotina e nas frustrações do dia a dia que nos levam à negação da própria vida, passamos os dias suportando a dor, mas ainda manifestamos desejo e pulsão. “Kynodontas”, lançado em 2 de outubro, é o segundo EP da Silenzio Statico e revela uma faceta mais pesada e sombria da banda, na qual as influências do metal e do hardcore mais extremo se fazem presentes. São quatro faixas que exploram temas como a violência, a alienação mental e a inadequação social, mas também apontam para a possibilidade de uma nova harmonia construída a partir dos escombros daquilo que lutamos para destruir.


– Biografia “Júpiter Maçã: A Efervescente Vida e Obra” – Está aberta a pré-venda da obra biográfica “Júpiter Maçã: A Efervescente Vida e Obra”. Em sua reedição, a biografia de autoria dos jornalistas Cristiano Bastos e Pedro Brandt passou por um check-up geral, foi acrescida de informações, material extra, entrevistas exclusivas feitas com Júpiter Maçã, além de muitas fotos (são, ao todo, mais de 130 registros fotográficos) – em 3 cadernos de fotos coloridas que passam a limpo, iconograficamente, a trajetória de Flávio Basso desde sua infância, adolescência, passando pelo TNT, Cascavelletes e suas diversas encarnações solo, como Maçã e Apple, entre outras.

Além disso, o livro, que foi revisado pelo pesquisador e colecionista Zeca Azevedo (assim como Cristiano, colaborador da Célula Pop), traz duas entrevistas feitas pelos autores com Júpiter Maçã, em diferentes fases de sua carreira. A publicação também ganhou um projeto gráfico totalmente novo e arrojado do designer gráfico Rafael Cony.

O livro pode ser adquirido diretamente com os autores pelo Whats-App: Cristiano Bastos: (51) 982 986 277.


– “Brain Eating Amoeba”, Théo Fetter – O músico Théo Fetter disponibilizou novo som chamado “Brain Eating Amoeba”. Conforme post do artista no Instagram: “É uma música de uma fase diferente da minha vida, onde eu ainda tava compondo tudo em inglês. mesmo eu já tendo virado essa chave, acho importante eternizar essa música e o EP que eventualmente vai a acompanhar nas plataformas, porque fez parte de uma época marcante da minha vida!”


– “The Mystic Garden of Eternity”, Marcelo Demichelli – Nesse disco instrumental, o guitarrista santa-mariense segue a proposta e o conceito do álbum anterior, porém dando mais destaques aos riffs e ás harmonias “tensas, climaticas, misteriosas e energéticas”. Os solos continuam em destaque, mas mais “melodicos” e por vezes “pontuais”. Marcelo Demichelli pretende tocar adiante essa identidade artística, estética e músical de um “metal trevoso do oriente” pois se identificou com tal conceito.


– “Hotel Ritz”, Carlinhos Carneiro – Registro com 13 composições inéditas gravadas por Carlinhos Carneiro (Bide ou Balde) com a banda Os Excelents Animais e produção de Fu_k The Zeitgeist.

A faixa-título, parceria com a cantora gaúcha Catto, funciona como porta de entrada para o conceito do álbum, que também conta com a participação da banda Supervão, representante da nova cena do rock gaúcho e elo entre diferentes gerações.

Hotel Ritz” é mais que um título: funciona como metáfora de um espaço virtual que abriga músicas-hóspedes. Algumas delas acompanharam o músico por anos, sem encontrar lugar em outros discos. Outras surgiram recentemente, traduzindo vivências atuais.

A inspiração veio de uma fotografia de Marcelo Franco Bonifácio, que registra a fachada desgastada do antigo Hotel Ritz, no centro de Porto Alegre. A imagem permaneceu por anos pendurada na parede do apartamento de Carlinhos, amadurecendo como conceito até se tornar a pedra angular do álbum.

Os Excelents Animais são formados por Lucas Juswiak (baixo) e Guilherme Schwertner (bateria), que integraram a fase final da Bidê ou Balde; Iandra Cattani (backing vocal), com trajetória ligada ao teatro e à dança; Maurício Chaise (guitarra), integrante do Locomotores e colaborador de nomes como Júpiter Maçã, Wander Wildner, Frank Jorge e Duca Leindecker; Andrio Maquenzi (guitarra), da banda Superguidis; e Fu_k The Zeitgeist (teclados), produtor que reuniu no estúdio todos esses elementos e deu ao projeto uma sonoridade marcada por referências do indie clássico e contemporâneo.


– “Love”, Demure – De acordo com o grupo, em post no instagram: “a banda foi se transformando, a gente também foi mudando nosso som, mas “Love” foi uma composição que nunca saiu da nossa cabeça. Por isso, ela foi uma das primeiras músicas do ano passado e da antiga formação que resolvemos revisitar.” Ainda de acordo com o quarteto, “Love” é pura nostalgia do som 2YK, das madrugadas compondo com os amigos e da vontade de colocar pra fora tudo o que se sente.


– “Há Vulcões em Porto Alegre”, Afonso Antunes com feat Paola Kirst e participação de Lorenzo Flach – A música, gravada ao vivo em março de 2025 no Café Fon Fon em Porto Alegre, é o primeiro single do EP “Filho Único e Convidados”, que chega completo dia 21 de novembro e traz versões do primeiro disco solo de Afonso, intitulado “Filho Único”.

Inspirada em um sonho de 2021, a faixa retrata vulcões emergindo do Guaíba (lago-rio que molda a paisagem da capital gaúcha), prestes a entrar em erupção, enquanto a vida cotidiana segue indiferente. “É uma música sobre a estranheza que sinto em viver aqui, sobre pequenas violências, mas também sobre pulsão de vida, lava saindo do chão”, explica o compositor.

Pra quem gosta de Rodrigo Amarante, Bruno Berle e Radiohead.

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